sexta-feira, 27 de agosto de 2021

207- Gunslinger Girl

Gunslinger Girl é um excelente anime de 2003-2004, cuja ação se desenrola em Itália. onde se situa uma instituição governamental conhecida como Agência de Bem-Estar Social. Esta corporação foi criada e é patrocinada pelo Estado Italiano, no interesse de reabilitar pessoas que sofreram danos físicos e psicológicos graves, em decorrência de situações traumáticas, como tráfico de humanos ou tentativas de assassinato.

Todavia, esta corporação esconde-se sobre um segredo macabro: A Agência insere implantes cibernéticos, sob forma de partes do corpo ou tecidos corporais, como músculos, em pacientes em estado terminal ou muito grave, no sentido de os reabilitar fisicamente e comandá-los para realizarem os trabalhos mais perigosos em que o governo italiano se encontra envolvido, dentro dos quais, o combate a organizações mafiosas e terroristas. Os pacientes são também submetidos a um processo de manipulação da mente humana, que se denomina de "condicionamento", de modo a reforçar o controlo que outras pessoas detém sobre os pacientes reabilitados. Neste contexto, seis jovens meninas foram submetidas a estes tratamentos e cada uma delas possui um mestre, a que se atribui o nome de "Usuário". São elas Henrietta, Claes, Angelica, Rico, Triela e Elsa. O governo italiano faz uso destas crianças, argumentando que, por serem mais jovens, os mecanismos de controlo e as modificações corporais a implementar são mais fáceis de incorporar.

Este processo de manipulação mental implica o apagamento das memórias passadas dessas crianças, pelo que, a partir do momento em que passam pelo condicionamento, irão ser treinadas para usar armas e matar. Assim sendo, o condicionamento força as meninas a cumprir os seus serviços, conforme lhes foi ordenado e também para reagirem, sensitivamente, a potenciais ameaças contra os seus tutores.

Por outro lado, o condicionamento também contribui para deixar os corpos das pacientes mais frágeis a lesões físicas, algo que poderá redundar em danos irreversíveis, como a perda de memória. Tornam-se também mais desprotegidas face a danos psicológicos, situações estas cujas consequências para as meninas são igualmente bastante hostis.

Os Usuários são adultos responsáveis por treinar as meninas militarmente e corporalmente para as arriscadas missões em que engajam. Peremptoriamente, as meninas são observadas por um médico, de maneira a que sejam apuradas eventuais falhas dos seus sistemas cibernéticos. Consoante os resultados que revelem nestas consultas médicas, perante o melhor ou pior desempenho nas missões e a gravidade dos ferimentos que sofram no decorrer das mesmas, as meninas poderão ser submetidas a novos condicionamentos. Isto é efetuado no sentido de se aumentar o controlo que os Usuários possuem sobre as meninas, com vista ao aparente melhoramento do seu desempenho nas suas missões. 

Acontece que há algo além destes factores que referi acima e é precisamente isso que, embora de uma forma muito subtil, constitui a essência deste anime. Estamos a falar de raparigas jovens que, apesar de terem tido as suas memórias apagadas, continuam a manifestar comportamentos próprios de crianças. A sua inocência, o senso de competitividade com os pares, a tentativa de agradar aos adultos em seu redor, os espontâneos e imediatos laços de empatia que criam com as pessoas com quem se deparam e a necessidade de questionar constantemente o mundo em seu torno são algumas das características tipicamente infantis que estas meninas revelam e que, simplesmente, não podem deixar de demonstrar.

Para quem gosta ou manja um pouco de psicologia, é possível associar este enredo com a teoria do condicionamento operante do psicólogo estadunidense Burrhus Skinner. O condicionamento operante é uma teoria comportamentalista (ou seja, respeitante ao funcionamento do comportamento humano), admitindo que, através da realização de um estímulo específico, é possível modelar o comportamento de um indivíduo, de forma a que este responda ao mesmo estímulo com a resposta esperada. Quando o estímulo tem uma conotação positiva, é porque se pretende aumentar a intensidade e frequência desse comportamento, enquanto que, no caso de um estímulo negativo, se procura fazer exatamente o inverso. Deste modo, pretende-se aumentar a probabilidade de um certo comportamento ocorrer novamente ou de o apaziguar ou extinguir.

De certa forma, é isto o que ocorre em Gunslinger Girl, mas com algumas subtis diferenças. Os comportamentos indesejados podem ser sumariamente repelidos com o recurso ao condicionamento, embora este processo reverta em consequências mais negativas que positivas sobre as meninas. Por outro lado, há usuários que optam por uma abordagem mais humanista e pedagógica, relativamente às suas tutorandas. Este é o caso paradigmático de Giuse Croce, usuário da pequena Henrietta. Guise destaca-se na Agência por ser o único usuário que, consistentemente, possui uma relação próxima e quase paternal para com a sua tutoranda. De resto, a relação entre os outros usuários e ciborgues é primacialmente mais distante e fria, embora exista sempre um suporte emocional recíproco entre as meninas, dentro dos seus dormitórios conjuntos. E é verdadeiramente interessante de que forma a mente das crianças se relaciona com os cenários de alto risco e violência que caracterizam as missões por quais enveredam.

Em conclusão, Gunslinger Girl é uma ótima sugestão para quem aprecia animes com interessantes jogos psicológicos, destinados a um público-alvo mais maduro. Deixo-vos, sem mais demoras, algumas imagens:


Vídeo:

 

Poderão assistir este anime, legendado em português, no site MeusAnimes.

Sem comentários:

Enviar um comentário